terça-feira, 28 de março de 2017

Influência das populações pré-colombianas na bio-diversidade da Amazônia


Populações pré-colombianas podem ter domesticado a Amazônia



Maria Guimarães | Revista Pesquisa FAPESP (07 de março de 2017) – Um grupo de biólogos e arqueólogos defende que a Amazônia, longe de ser uma floresta virgem, f oi profundamente alterada pelas populações humanas que viveram por lá ao longo dos últimos milhares de anos. “Detectamos que perto de sítios arqueológicos há uma maior concentração e diversidade de árvores usadas pelos índios”, conta a bióloga Carolina Levis, doutoranda no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e na Universidade de Wageningen, Holanda, e primeira autora de um artigo publicado http://science.sciencemag.org/content/355/6328/925 na revista Science. Os resultados descrevem uma floresta modificada de forma constante por milhões de índios.
Levi e seus coautores examinaram, pela primeira vez, correspondências entre dados arqueológicos e botânicos, graças a dois extensos bancos de dados. Um compilado pelos arqueólogos Eduardo Tamanaha, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas, e André Junqueira, agora em estágio de pós-doutorado na Universidade de Wageningen, que inclui dados de mais de 3 mil sítios arqueológicos. O outro foi criado pelo botânico Hans ter Steege, do Centro de Biodiversidade Naturalis, também da Holanda, formando uma rede de pesquisadores que fizeram inventários botânicos em 1.170 parcelas de amostragem na Amazônia, listando mais de 4 mil espécies de árvores.
Até 2013, o projeto de pesquisa contou com o apoio da FAPESP no âmbito de um acordo com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), tendo como pesquisador responsável Javier Tomasella http://www.bv.fapesp.br/pt/pesquisador/2414/javier-tomasella/.
As diferenças na composição florística entre onde já houve povoamentos e áreas mais distantes são tão marcantes que Carolina acredita poder usar a composição da flora como assinatura para localizar sítios arqueológicos. Levando em conta as árvores atuais, a pesquisadora do Inpa chegou a detectar 85 espécies usadas e domesticadas pelos índios, como o açaí-do-mato, a castanha-do-pará e a seringueira.
A abundância das plantas usadas pelos índios ainda sugere que muitas domesticações aconteceram no sudoeste da Amazônia, onde também teriam surgido famílias linguísticas importantes, como o Tupi e o Arawak. “Esses grupos podem ter levado as plantas por grandes distâncias”, sugere Carolina. A correlação entre árvores hiperdominantes – aquelas que aparecem em abundância desproporcional – e indícios de populações humanas antigas é mais forte no sudoeste da Amazônia, como Rondônia, e também na região da foz do Amazonas, mas conclusões definitivas esbarram em amplas extensões desconhecidas – tanto do ponto de vista florístico quanto arqueológico.
Uma das dificuldades é saber se a distribuição das árvores foi realmente alterada por gerações e gerações de índios, ou se os povos se estabeleceram exatamente onde havia recursos valiosos para eles. Carolina aposta na primeira alternativa. “Encontramos árvores com preferências ecológicas distintas vivendo nas mesmas parcelas de amostragem, algo improvável de acontecer naturalmente.”
Ela se preocupa com a pressão de desmatamento exatamente onde essas plantas são mais abundantes. “As linhagens silvestres das plantas usadas pelos índios estão nessa região, e preservar essa diversidade genética também é importante para a segurança alimentar”, afirma. O arqueólogo Eduardo Góes Neves, professor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE-USP) e um dos coautores do estudo, ressalta que os padrões da floresta também guardam registro de práticas humanas. “Um castanhal desmatado significa uma forma de conhecimento da floresta que desapareceu”, afirma.
O artigo Persistent effects of pre-Columbian plant domestication on Amazonian forest composition, publicado na Science, está disponível em http://science.sciencemag.org/content/355/6328/925.
Fonte: Agência FAPESP -http://agencia.fapesp.br/populacoes_precolombianas_podem_ter_domesticado_a_amazonia/24870/

quarta-feira, 11 de abril de 2012

as sociedades formativas da região de Santarém

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A Revista de Antropologia, publicação do Departamento de Antropologia Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Universidade de São Paulo, publica, no Volume 54, número 1, janeiro-junho 2011, artigo da Dra. Denise Maria Cavalcante Gomes, professora da Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA, "Cronologia e conexões culturais na Amazônia: as sociedades formativas da região de Santarém – PA", cujo resumo reproduzimos abaixo.
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"Este artigo discute as sociedades formativas da região de Santarém – PA por meio da análise de sua cultura material, apontando a existência de comunidades ceramistas culturalmente distintas, que se desenvolveram nesta área desde 3800 a.P. até a emergência das chefias complexas por volta de 1000 a.D. Os dados sugerem a sucessão de diferentes grupos no tempo e no espaço, os quais provavelmente contribuíram na constituição de agrupamentos multiétnicos tardios ocorridos nesta e em outras áreas da Amazônia, conforme tem sido sugerido por outros pesquisadores. Conexões culturais com a área do Rio Trombetas, Amazônia Central e Alto Xingu também foram evidenciadas."
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Para quem quiser ler o artigo na íntegra esta edição da Revista pode ser acessada através do link específico no menu "Visite".
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domingo, 18 de outubro de 2009

ação pelo retorno dos artefatos de cerâmica tapajônica

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Internacionalmente tem havido acordos de devolução de peças de arte aos museus dos países de origem, peças essas compradas no mercado negro, roubadas, saqueadas em conflitos armados ou mesmo retiradas em pesquisas arqueológicas.

Vamos organizar um movimento pelo retorno das peças que estão no MAE-USP para Santarém, para serem expostas no Centro Cultural João Fona.

Um movimento amplo, englobando a Secretaria Municipal de Cultura de Santarém, a Associação Empresarial e Comercial, a UFPA, a UEPA, a FIT, o IESPES, a ULBRA, a UFRA, a mídia em todas suas formas, os artistas, os educadores, os estudantes, o Deputado Carlos Martins, a Assembléia Legislativa do Estado do Pará, os deputados federais e os senadores do Estado do Pará, e o próprio Governo do Estado do Pará, que acaba de sancionar a lei nº 7.313/2009, que declara como Patrimônio Cultural e Artístico do Estado a Cerâmica Tapajônica de Santarém.

Alguém mais apóia essa idéia?
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o Centro Cultural João Fona

centro cultural João Fona Santarém cerâmica tapajonica

o Centro Cultural João Fona, de Santarém PA, foi inaugurado há 140 anos, já foi Intendência Municipal, presídio, Prefeitura e Fórum de Justiça.

.........................fachada, de frente para o Rio Tapajós

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............................vistas do interior, a antiga Sala do Júri

Fotos: N. Wisnik, 2007
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Patrimônio Cultural do Pará

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É lei!

Em 16 de outubro de 2009 o DOE (Diário Oficial do Estado) do Pará publicou a sanção pela Governadora Ana Júlia Carepa, da Lei de nº 7.313/2009, que declara como Patrimônio Cultural e Artístico do Estado a Cerâmica Tapajônica de Santarém, projeto do deputado estadual Carlos Martins (PT).

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a Cerâmica Tapajônica

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por Nelson Wisnik
em http://www.jesocarneiro.com/



A cultura de um povo, um contexto complexo de crenças, comportamentos sociais, valores, manifestações artísticas, em Santarém materializada nas músicas do maestro Isoca, na culinária de Márcia Melo, nas evoluções dos botos Tucuxi e Cor de Rosa, no Festival Borari, tem reconhecimento também, agora oficialmente, através das cuias pintadas e nos artefatos da cerâmica tapajônica, obras de artistas anônimos, porém não menos valiosas, sedimentando e fortalecendo a identidade do povo desta região. Parabéns!

A cerâmica tapajônica, da região dos entrerios Tapajós-Madeira e Tapajós-Xingu, centrada em Santarém e atingindo também a bacia hidrográfica do rio Trombetas, é muito elaborada, complexa, com utensílios domésticos, cerimoniais, ornamentais, espirituais e funerários.

A cerâmica Tapajônia, datada criteriosamente, é a mais antiga das Américas, cerca de 3.000 anos mais antiga que a cerâmica Marajoara, embora esta seja mais conhecida.

A foto apresenta um vaso cerimonial aberto sustentado por figuras antropomórficas, que acabou por ser conhecido como vaso de cariátides, nome que não endosso. Cariátides são as figuras em formas humanas femininas que sustentam algumas construções da antiga Grécia.

Este vaso se encontra no Centro Cultural João Fona, em Santarém, uma das poucas peças restantes na região, pois a quase totalidade delas foi levada para fora do país.

No Brasil, algumas peças podem ser vistas no MAE – Museu de Atropologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.

Minha contrariedade com relação à designação de vaso de “cariátides” se deve a dois aspectos: primeiro, que esses vasos são mais antigos que as próprias cariátides gregas; segundo, por se tratar de um artefato cultural da Amazônia que deve ser designado por nome que o identifique como tal. Pergunto aos estudiosos, como eram chamados esses vasos por quem os produziu? Se não tivermos essa informação, como poderia ser designado na sua língua?

Foto: N. Wisnik, 2008

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