domingo, 18 de outubro de 2009

a Cerâmica Tapajônica

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por Nelson Wisnik
em http://www.jesocarneiro.com/



A cultura de um povo, um contexto complexo de crenças, comportamentos sociais, valores, manifestações artísticas, em Santarém materializada nas músicas do maestro Isoca, na culinária de Márcia Melo, nas evoluções dos botos Tucuxi e Cor de Rosa, no Festival Borari, tem reconhecimento também, agora oficialmente, através das cuias pintadas e nos artefatos da cerâmica tapajônica, obras de artistas anônimos, porém não menos valiosas, sedimentando e fortalecendo a identidade do povo desta região. Parabéns!

A cerâmica tapajônica, da região dos entrerios Tapajós-Madeira e Tapajós-Xingu, centrada em Santarém e atingindo também a bacia hidrográfica do rio Trombetas, é muito elaborada, complexa, com utensílios domésticos, cerimoniais, ornamentais, espirituais e funerários.

A cerâmica Tapajônia, datada criteriosamente, é a mais antiga das Américas, cerca de 3.000 anos mais antiga que a cerâmica Marajoara, embora esta seja mais conhecida.

A foto apresenta um vaso cerimonial aberto sustentado por figuras antropomórficas, que acabou por ser conhecido como vaso de cariátides, nome que não endosso. Cariátides são as figuras em formas humanas femininas que sustentam algumas construções da antiga Grécia.

Este vaso se encontra no Centro Cultural João Fona, em Santarém, uma das poucas peças restantes na região, pois a quase totalidade delas foi levada para fora do país.

No Brasil, algumas peças podem ser vistas no MAE – Museu de Atropologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.

Minha contrariedade com relação à designação de vaso de “cariátides” se deve a dois aspectos: primeiro, que esses vasos são mais antigos que as próprias cariátides gregas; segundo, por se tratar de um artefato cultural da Amazônia que deve ser designado por nome que o identifique como tal. Pergunto aos estudiosos, como eram chamados esses vasos por quem os produziu? Se não tivermos essa informação, como poderia ser designado na sua língua?

Foto: N. Wisnik, 2008

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